SÓLIS

Antes de mais nada
Autor: Oscar Saraiva

Antes de mais nada
Devo contar prá vocês
Não há nada aqui prá ver

Não houve nada antes
Não haverá nada depois
E agora estamos antes de mais nada



Ela era amada por alguém, ela amava demais, ela tinha medo de amar, ela comeu a família, ele tem dupla personalidade, ela pensava no universo,
ela nunca teve um encontro, ela parou no meio, ele escreve um livro,
ela abandonou, ela não é amada.
Não há nada aqui pra ver!

***

"Antes de mais nada", escrito por Oscar Saraiva em processo colaborativo com o grupo, apresenta as histórias de treze personagens que culminam em um assassinato. O espetáculo é dividido em sete partes. A cada parte ele progride até seu desfecho utilizando diferentes linguagens cênicas.

Na primeira é apresentado simultaneamente o cotidiano de todas as personagens. No palco treze pessoas sozinhas vivem em seus silêncios, o seu nada particular. Uma mulher passa roupa ao mesmo tempo em que um homem toca sua gaita e outra mulher usa talco nos pés. De um lado um sujeito escreve, do outro uma moça lixa sua unha e outra arruma a mesa do jantar. O vazio do dia-a-dia num palco cheio de ações, de objetos, de pessoas. Aqui e lá coisas vão acontecendo enquanto nada de fato acontece. Ora alguém se cansa do tédio e decide cantar uma música, ora alguém se cansa de tudo que não há e o nada continua a acontecer. Treze solidões cotidianas e mais nada.

Na segunda parte do espetáculo, de maneira fragmentada, cada ator apresenta um pouco de sua personagem. Na terceira parte, as histórias de cada um vão se apresentado dentro de fragmentos de cena até se concluírem na quarta parte.

Na quinta parte as personagens recebem a notícia do assassinato de Olegário, morto com cinco tiros a queima roupa – o texto lança mão de uma história que possa entreter e aliado a encenação ganha uma comicidade capaz de ironizar a própria cena.

A comicidade atinge o tom mais debochado na sexta parte, com a chegada de dois detetives que são contratados para investigação. No interrogatório que sucede à sua apresentação, torna-se clara a falta de sentido daquelas vidas vazias que se interligaram pela necessidade de se preencherem com a mesma pessoa: o agora defunto Olegário Maciel.

Um pouco antes do fim, antes mesmo dos detetives concluírem sua investigação, a cena é paralisada, nada mais progride. As personagens voltam para o escuro, imóveis. Cada um dos treze, dentro de sua própria paralisia, canta num quase sussurro: “Dá não dá, dá não dá pra ser feliz, dá não dá, dá não dá para essa vida melhorar?”. E tudo vira nada outra vez.

Voltaremos em 2010! Aguardem!